Dias de alegria. Dias de muito trabalho. Dias de muita preguiça. Dias de liberdade. Dias de lágrimas. Dias de inquietação. Dias de esperança. Dias de vontades. Dias... Eu? De todos eles!!
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Mais um ano
Na minha formatura do ABC
Ela estava trabalhando. Era uma loja de shopping no centro da cidade e o clima era ótimo, música boa, fim de expediente, pouco movimento, hora em que os vendedores aproveitam pra relaxar um pouco.
- Gilmara, telefone pra vc.
- Alô?
- Oi meu amor, tudo certo?
- Oi mainha, tudo. Diga aí...
- Olhe, tô ligando pra dizer que seu pai precisou ir pra o hospital... Ele tá na UTI mas os médicos ainda não disseram muita coisa não.
- ... o que foi que ele teve?
- Eu ainda não sei direito, meu amor, ele tava meio ruim esses dias, nem pra hemodiálise aguentou ir, aí eu vim aqui fazer um exame e encontrei ele, tava indo se internar...
- tá bom... vá me dizendo como ele tá, viu?
- Tá, pode deixar. Mas tente ficar bem..
- Tá bom... beijo
- se cuide, beijo, eu ligo depois...
Ela foi pro estoque. Chorava. Muito. Tanta coisa passava pela cabeça. A relação com o pai nunca foi das melhores. Ela queria que ele fosse realmente pai. Ele não era. Ela desistiu dele. Mas agora, a notícia da UTI era dura demais. Tinham quase trezentos quilômetros os separando.
Foi pra casa com os olhos vermelhos. Muda. Ia ter uma calourada na universidade naquele dia. Tava tudo certo, ela iria com os amigos, mas não tinha mais ânimo. A mãe ligou de novo e insentivou que ela fosse. Ficar em casa ia ser pior, não ia ajudar, melhor tentar se distrair. O aniversário da amiga tinha sido no dia anterior. Elas iam comemorar. Decidiu ir...
Na calourada ainda conseguiu dar alguns sorrisos, dançou um pouco, mas não era ela. Uma pessoa que a conhecia como poucos notou e chamou pra conversar. Uma longa e deliciosa conversa. Voltaram pra o grupo. Era 21 de novembro de 2003 por volta das 23h.
Segurando o dedo indicador da mão direita Gilmara disse:
- Eita... vou fica três dias de luto agora...
Quando viu que a amiga segurava o dedo, Renata já disse:
- Vai! Deixa de palhaçada, o que foi eim?
- Eu quebrei minha unha!!! oowww tava tão bonitinha... tô triste agora...
De outras vezes ela já tinha ficado "triste" por ter quebrado a unha. Dessa vez era diferente. O coração tava apertado, tava ruim de respirar...
A notícia só chegou no outro dia às seis da manhã. Por telefone.
- Meu amor, venha pra casa venha...
Mainha não precisou dizer mais nada. Eu fui. Caruaru nunca foi tão longe, chorei o caminho todo atrás dos meus óculos escuros. Minha melhor amiga estava com oito meses mas ficou do meu lado o tempo todo. Foi quem me segurou nas duas vezes que as pernas fraquejaram na frente do caixão. Fazia meses que eu não falava com ele. E foi naquele momento que eu realmente percebi o quanto eu parecia com ele. O nariz, as mãos... iguais.
- Você me enganou. Tinhamos um trato. Você disse que só ia morrer depois que eu tivesse formada...
Eu disse quando jogaram a última terrinha sobre o caixão. Eu também enganei ele. Apesar de todas as palavras duras que eu disse olhando no fundo dos olhos grandes dele, eu não disse uma coisa: que ainda assim eu o amava. Eu nunca disse isso a ele...
Ah... na certidão diz que ele morreu às 22h50 ... lembra da hora que eu falei da unha, do luto?
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2 comentários:
Deve ser uma dor tão unsuportável que procuro não pensar. Não pensando, não sofro com antecedência. Ou não. Sabe lá o que o destino guardou para mim?
bjo, fica com Deus.
Que triste!
Eu ainda não consegui me recompor inteiramente da perda de meu pai, há dois anos (07/11).
E nem sei como dói mais: se no seu caso, que lhe tinha reservas; se no meu, que sempre foi tão presente...
Acho que nos dois casos, fica a sensação esquisita de ter faltado fazer ou dizer alguma coisa...
Fiquei triste também...
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