sábado, 8 de novembro de 2008

Deus é que sabe


Discover The Raconteurs!
Esse da foto é meu avô. Seu José Ferreira Dias. Pai da minha mãe. 86 anos (essa idade dele é um problema. Ele tem uma de verdade e outra no registro. Nunca sei qual "voga"). Essa música é Broken Boy Soldier, dos The Raconteurs. Banda da qual Jack White, do White Stripes, faz parte. Quando eu tava indo pra Caruaru a exatos oito dias ouvi muito essa música e uma parte ficou na minha cabeça: "I'm child and man then child again / the boy never gets older " ("Eu sou criança e homem e depois criança de novo/ o garoto nunca fica velho") E hoje, vendo as fotos da ida a Caruaru, me lembrei da música. Lembrei do meu avô. E é bem assim que as coisas são. A gente é criança, vira adulto. Depois, criança de novo. É assim que meu avô está faz algum tempo. Ele voltou a ser criança. Diz o que pensa sem ligar pra nada. Tem o mundo de fantasias na cabecinha dele. Diz coisas que a gente se pergunta: como é que ele lembrou disso? Fala com todo mundo com simpatia (bem, simpatia ao modo dele) mas esqueçe os nomes. Um homem forte como todo sertanejo. Teve 18 filhos, trabalhou na roça, "neguciou" na feira enquanto a saúde deixou. Teve dois AVCs, paradas cardíacas, usa um marcapasso, já fez outras tantas cirurgias, está com Ausaimer. Faz dois dias que ele está internado. O velho coração está cansando. Está grande. Agora, literalmente. Os pulmões também estão cansando. Seu José lutou contra muita coisa, mas a espada está caindo da mão dele. Uma mão grande e forte. Um aperto de mão que nunca vou esquecer. "Quando for aperta a mão de alguém, tem que ser cum força. Um aperto de mão é a garantia que o caba é de respeito, que pode confiar nele.Hoje tem um monte de coisa aí que num dá garantia de nada. Antigamente a gente fechava negócio só com um aperto de mão. E se fosse forte, pudia confiar." Enquando o do meu véi tá grande, o meu coração tá apertado e na mão. Tenho medo quando o telefone toca. Quando recebi a notíca da morte do meu pai também foi por telefone... É o preço de crescer e ganhar asas... Quando eu era criança, ele era grande. Agora que sou grande, ele é criança.

3 comentários:

Clébio Melo disse...

Gosto de ler bons textos, já disse. Mas esse tive que reler mais de uma vez e a cada vez que li senti um pouco da apreensão que você está sentindo. Esse é um dos dons da palavra: compartilhar. Você conseguiu como poucos (e poucos mesmo!) passar o que estava sentindo através das palavras. Um texto carregado de emoção... arrepiei ao ler. Melhoras para o teu vô. Deus o abençõe.

Unknown disse...

se vc soubesse o que aconteceu agora lendo esse seu texto
afff,um aperto no peito,uma vontade de ter o que eu nao tive,mas sempre procurei um,e qdo eu encontrei um pra mim,DEUS levou,era um velhinho que foi morar pertinho la da minha casa,
pois ai rola lacos de sangue e o meu nem precisou.
Quando eu era criança, ele era grande. 'Agora que sou grande, ele é criança"foi a parte que eu queria dizer e cuidar dele
amei,texo e sensibilidade perfeita
amei
parabens

Anônimo disse...

Um conterrâneo gaúcho descreveu bem o encontro da criança com quem já foi um dia: "No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... Coisas que não existem mas que um dia existirão... no final, que restará? Um desenho de criança..." (Quintana) Gilmara, que deles nunca fique a lembrança do telefone, mas só do forte aperto de mão. Negócio fechado? Saúde pra ele e pra vc.