quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Um alguém

Ele não tinha nem trinta anos, mas a barba há muito por fazer, os cabelos grande que o boné rasgado não conseguia esconder e as roupas sujas faziam parecer que sim. Como companhia apenas uma mochila velha e igualmente suja. Ou até mais... Parecia ser o seu único pertence... No meio de um monte de gente que olhava cardápios, conversava e comia, ele apenas estava lá. Sentado. Ao seu lado tinha uma garrafa com um resto de refrigerante, por certo já quente e com gosto ruim, e um pacote inteiro de pão. Mofado. Em momento algum pediu comida. Comeu bastante. Os que notavam a presença dele alí, ao passar, sempre deixavam um pedaço de tapioca ou o restinho do purê de macaxeira... Com um único movimento de cabeça e com os olhos... Ah! Como agradeciam! Ele não fico lá mais que quarenta minutos. Mas parecia estar perdido em uma eternidade só dele. Com pernas estiradas e pés cruzados, uma mão sobre a mochila e a outra segurando a garrafa ele passou, em alguns minutos, horas olhando pra o nada. Bom, isso era o que parecia à primeira vista. Pra mim, ele via um filme. Não sei se autobiográfico, futurista ou drama. Sim, ele via muita coisa. Diferente de uma "doidinha" que passou cinco minutos conversando com o vento e com o pedaço de papelão que carregava,eu não ouvi a voz dele. E ele parecia não se importar com toda aquela situação. Parecia, apenas, aceitar. Isso não aconteceu ontem nem antes de ontem. Mas, inexplicavelmente, vez ou outra, a imagem daquele homem me volta à cabeça e me faz querer saber: o que será que estava passando pela cabeça dele? PS.: Esse texto não tem foto porque não tive coragem de tirar... Preferi ficar com a imagem dele fotografada só na minha memória...