quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Indignação

"Ah, 'alejada' do sangue 'misera'. Só pra atrapalhar o serviço."

Forte isso, não? Feia essa frase, né? Palavras desprezíveis, concorda? Foi exatamente o que ouvi hoje no ônibus vindo pra casa. As palavras saíram da boca do motorista que se achou no direito de culpar uma cadeirante porque o "elevador", aquele que faz com que o deficiente entre no ônibus, quebrou depois de ela ter usado. Não sei você, mas eu acredito no poder das palavras. A que coloquei entre aspas lá na primeira frase, por exemplo, não gosto nem de pronunciar, não gosto quando ouço. Acho uma palavra pesada negativa. Imagine ela ser proferida para uma pessoa que não tem nada com isso, culpa nenhuma, que não pediu pra nascer com uma paralisia... Uma moça que não tinha mais que dezoito anos, com toda certeza, e que só estava querendo ter o direito de ir e vir como bem entender  e como qualquer pessoa que ande sobre suas próprias pernas faz.  Ele falou isso depois que a menina saiu do ônibus, mas não torna a ação menos imbecil.

Se não existe acessibilidade, ela tem que ser criada. Se existe é pra ser usada. Quer dizer então que um ônibus adaptado não pode ser usado por um cadeirante porque "atrapalha o serviço"? Sim, eu sei que nem todos motoristas e cobradores agem desse jeito estupido, mas esse foi um caso que presenciei. Sei lá por quantas situações como esta os deficientes passam.... Fiquei quinze dias sem poder andar este ano. Lesionei o ligamento do tornozelo esquerdo. Pra me locomover, só com muletas e digo pra vocês: passei acho que dos quinze, doze dias sem sair de casa porque era muito ruim andar pelas ruas de muleta. As calçadas quebradas ou desniveladas, batentes altos, uma complicação. E olhe que no meu caso era passageiro, mas imagina quem está preso a uma cadeira de rodas pra  vida toda as dificuldades que enfrentam todos os dias?

Essa  é terceira vez que pego um desses ônibus adaptados. No de hoje, um outro cobrador que estava lá foi quem manuseou o equipamento e com eficiência, mas nos outros dois casos foi preciso esperar cerca de dez minutos para que o cobrador conseguisse controlar tudo e colocar o cadeirante no ônibus. Uma situação constrangedora porque era pra ele saber mexer, os outros passageiros começaram a ficar impacientes e o deficiente tendo que passar por todo o constrangimento de olhares e piadinhas. As empresas precisam treinar melhor seus funcionários para todo tipo de situação. Tratar bem as pessoas não é um favor não. É uma obrigação de todos nós. Você gosta de ser destratado? É o bom "não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você".

Pra completar a frase "primorosa" do motorista o cobrador ainda solta: "se mais algum pedir parada é pra dizer que a máquina quebrou".
Tenha cuidado com o que fala, seu motorista. Você não  sabe o dia de amanhã.

3 comentários:

Gil de todos os dias disse...

Via twitter: @Miguel_Danta Em casos como esse, é preciso que denunciemos pra que ela perca o emprego mesmo... Esse porco miserável merece é cadeia!!

Anônimo disse...

Via MSN: Clébio Melo diz (18:16):
filho da puta desse motorista
fiquei indignado agora

Ceça Ricarte disse...

Respeito é bom e todo mundo gosta!